terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mais uma eleição


Mais uma eleição. Mais uma eleição na qual não houve, da parte de todos os partidos políticos, uma apresentação explícita de um projeto de nação convincente – muito embora o PSOL, partido engendrado pela Heloísa Helena, tenha buscado demarcar espaço no que diz respeito à provocação arguta, séria e competente. Mas um projeto de nação, segundo cremos, não gira em torno apenas da crítica ao capitalismo.

É bem verdade que dentro dos velhos conhecidos discursos eleitorais, utilizados por todos os partidos, sem exceção, o PSOL tentou, com um relativo êxito, praticar uma espécie de re-apropriação de grandes (e reais) temáticas sem as quais não há possibilidades concretas de transformação social. Mas não conseguiu promover um discurso do projeto nacional, embora, como já salientamos, tenha apontado alguns caminhos.

O PSDB, O PT e o PV, estão preocupados com a caça aos votos. Uma velha e conhecida prática do eleitoralismo, que, aliás, a mídia, tratou de reiterar em suas coberturas diárias sobre as eleições. O engraçado é que utilizando justamente os meandros do eleitoralismo, a mídia julga fazer a construção do voto consciente, reduzindo, quase que de maneira servil, a idéia de cidadania ao mero ato mecânico de votar e ser votado.

Os partidos não têm capacidade de gerar, ou promover uma discussão madura sobre projeto nacional, porque o próprio aparelho de Estado nunca teve projeto nacional. Por mais que alguns partidos – e este é o caso do PSOL, justiça seja feita – desejem criar condições favoráveis para a realização de discussões amplas sobre um projeto nacional, eles perderam a sua força enquanto partidos de idéias há muito. Ademais, se converteram em mais uma instituição privada preocupada em se apropriar das forças sociais, apenas isto.

Com isso, ficam os velhos discursos apoiados nas velhas temáticas (que estão longe da resolução objetiva) da educação para todos, distribuição de riqueza para todos, saúde para todos, moradia para todos, empregos para todos etc. Com pouco mais de 20 anos do chamado regime democrático (democracia = a eleitoralismo), fica a mesma e insistente frustração: cadê o grande projeto nacional? Quando começaremos a discuti-lo? Que não se diga que foi por falta de experiência histórica!!

Wadson Calasans - 28/09/2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cidadania

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terça-feira, 13 de abril de 2010

Goya (1814)

Incongruência Cultural

Caros leitores e leitoras, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia deu 359 mil reais para Daniela Mercury e Carlinhos Brown. Utilizou, para isso, a seguinte justificativa:

“A Secretaria de Cultura informa que os recursos para o pagamento das atrações artísticas do Congresso da ONU serão repassados pelo Governo do Estado. O show de Carlinhos Brown, apresentado ontem no Museu do Ritmo, contou com a participação do Balé Folclórico da Bahia, Banda Didá, Zambiapunga e diversos grupos de Cultura Popular, sendo a participação do artista uma solicitação do Comitê organizador do Congresso, por sua trajetória de ativismo social. A curadoria artística, a cargo da SecultBA, foi aprovada pelo comitê da Organização. Nos valores citados pela nota estão incluídos além do cachê dos artistas, bandas e convidados especiais, o cenário e toda a produção dos shows, pagamento de direitos autorais, direção artística, dentre outros itens. Daniela Mercury é um marco na música baiana e foi embaixadora da Unicef por 11 anos, e vai realizar o show com jovens do Neojiba, programa prioritário para a Secretaria e escolhido como um dos principais projetos do Governo que contribuem com a cidadania. Além dos shows, a Secretaria também foi curadora das exposições do Congresso que incluem artistas como Mário Cravo Neto, Pierre Verger, Zau Pimentel, além de uma instalação sobre Socorro Nobre, ex-presidiária que, comovida pela obra do artista plástico Frans Kracjberg, resolveu escrever-lhe cartas da prisão, sendo tema de documentário de Walter Salles, em 1995; e outra instalação sobre os Pontos de Cultura considerados projetos importantes para o desenvolvimento a partir da Cultura. Esses Congressos acontecem a cada cinco anos em diferentes países, cabe ao país cede oferecer uma programação cultural que oportunize aos participantes entrar em contato com a cultura local desses países”.


Gostaria de começar afirmando que a retórica da ''nota oficial'' é antiga. Ela é apenas um cumprimento ético-político, já que o Estado tem a obrigação histórica de prestar contas para o contribuinte (aquele que dão o apelido de cidadão). Assim, as justificativas dadas para tais gastos permanecem obscuras, já que não temos acesso à toda movimentação real, isto é, não fazemos (os cidadãos) as discriminações dos valores que são elencados para os gastos que serão realizados.

Portanto, ainda que sejam divulgados nos meios oficiais, podem ser habilmente manipulados (para mais, ou para menos); e isto qualquer indivíduo que se encontra na mais tenra infância sabe. Ademais, justificar o gasto utilizando o argumento das trajetórias desses famosos - porque há uma diferença, em nossa opinião, entre artistas e famosos, são conceitos completamente diferentes, e geram muitas controvérsias -, não é o critério mais adequado.

Muitos grupos musicais existentes no Estado, que são desconhecidos do grande público porque não caíram nas graças dos produtores e distribuidores hegemônicos, teriam todas as condições necessárias para representar bem a cultura local. Daniela e Brown, justamente por já terem suas carreiras consolidadas, sob diversos aspectos, e nem precisa mencionar o aspecto material, não deveriam aceitar tal oferta, ainda que fossem os famosos mais adequados para o evento da ONU.

Nesse passo, o dinheiro que foi liberado para eles deveria servir também como política de transferência de renda para os agentes anônimos que fazem arte e cultura tão importantes - talvez seja até mais importante - quanto a que eles, Daniela e Brown, fazem. Eles não precisam mais aparecer em eventos importantes para o grande público tomar nota da sua suposta arte; quem precisa são os novos atores, os novos personagens culturais, enfim, os novos agentes.

Uma política cultural comprometida realmente com tal fato, deve promover, entre outras coisas, a mudança desse modelo cultural que justifica a aparição das mesmas pessoas assentado numa estrutura ‘’fâmica-midiática-industrial’’ anacrônica. As estruturas do ”clientelismo” cultural tem de acabar.

Ficaria feliz se visse um grupo musical desconhecido das estruturas de informação e comunicação hegemônicas, mas conhecido na comunidade baiana pelas mesmas práticas sociais pelas quais Daniela e Brown ficaram conhecidos, tocando no evento da ONU. Isso sim daria oportunidade, para o grande público, de ter o contato com a nova cultura que borbulha na Bahia; isso sim seria uma nova política cultural impulsionada e defendida pelo Estado.
Wadson Calasans - 13/04/2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

O circo pegando fogo

Venho aqui demonstrar a minha indignação (e de muitos) quanto aos acontecimentos político-econômicos, relacionados ao Irã, nestes últimos tempos. Acontece que um punhado de países, tendo à frente os EUA (como sempre!) vem impondo sanções diversas ao Irã, alegando que este pode estar realizando pesquisas e investimentos em tecnologia nuclear para fins bélicos. O país rebate afirmando que o uso é para fins pacíficos.

Antes de mais, não tenho a pretensão aqui de fazer maior análise sobre a questão e nem me considero com suficiente conhecimento para tanto. Expresso apenas a minha opinião. Sendo para fins pacíficos ou não, é importante que nos façamos as seguintes perguntas: Por que uns podem e outros não? Por que sempre o chamado mundo árabe é o alvo de todas as desconfianças? Por que um país como os EUA, que tem histórico de lançar bombas atômicas sobre outros territórios (e olha que o Japão, já ao final da Segunda Guerra, já havia se rendido e mesmo assim Hiroshima e Nagasaki foram bombardeadas) pode ter pesquisas diversas e armamentos???!!!

Essa idéia disseminada pelo mundo de que alguns são fanáticos, loucos, inimigos etc, sabemos muito bem por quem é propagada e também temos o conhecimento de que o interesse em propagar certas idéias envolve muitas coisas e muito dinheiro. Durante muito tempo, o Brasil também ia nesse balaio e apoiava esse tipo de imaginário (e muitas de nossas mídias ainda o fazem). Felizmente, nos últimos acontecimentos das relações internacionais, o Brasil tomou outra postura e não concorda com os EUA. Gostei muito quando um conhecido diplomata disse que o Brasil tem que pensar com a própria cabeça.

Alguma dessas vezes que os EUA ficaram arranjando motivos para fazer sanções ou mesmo para atacar algum outro país, os motivos foram comprovados? Sabemos que, no caso do Iraque, os tais armamentos de destruição em massa nunca foram encontrados. Ainda assim, o mundo assistiu à destruição de um país (com seu povo, suas cidades, suas belezas naturais, seu patrimônio histórico, suas universidades...) por uma guerra feita pelos EUA e apoiada por países como Inglaterra, Itália e outros. Assistimos à destruição de um povo (e isto ainda está acontecendo) como se fosse cabível, como se tivesse que ser assim. Os países que se diziam contra a guerra ao Iraque também nada fizeram para impedi-la.

Será que, novamente, veremos as mesmas coisas se desenrolarem? Creio que não, que a história agora será diferente por algumas razões e porque a configuração mundial está se modificando aos poucos. E se os EUA pensam que será sempre igual, eles que se cuidem... as autoridades iranianas parecem bem determinadas. E se não atentarem para isso, quero mais é que o circo pegue fogo!