terça-feira, 7 de abril de 2009

O Leviatã

Concessão! Esta é a palavra mágica para o nosso tempo histórico atual. Ela significa, num sentido estrito, ação ou efeito de conceder; permissão; autorização. Começamos refletindo sobre esta palavra mágica, a qual foi citada por Silvia – num discurso amoroso sobre a humanidade – na sua reflexão sobre a suposta ‘’crise econômica’’ atual.
Bom, num contexto no qual falar em ideologias é quase que um crime; no qual aprofundar debates sobre os rumos que alguns poucos seres humanos impõem à maioria da humanidade é uma coisa chata; falar de miséria e pobreza é coisa de ‘’comunista de bar’’ - enfim, teríamos muitos exemplos para serem dados -, a palavra concessão, surge, neste contexto atual, para mais uma vez resolver um problema que é crônico à sociedade capitalista: a contradição!
Foi assim na segunda metade do século XIX, mais precisamente a partir de 1870, quando o capitalismo se viu forçado, numa situação-limite, gerada naquela década, a ter de forjar uma guerra no início do século XX, matando conseqüentemente milhões de seres humanos em nome da ‘’expansão e ascensão’’ das nações. Foi assim em 1929, quando mais uma vez, milhões de seres humanos foram reduzidos à meros freqüentadores de lixões. Foi assim também nas décadas de 1970 e 1980, quando as recessões econômicas mais uma vez bateram na porta da sociedade do consumo; e o que aconteceu? Milhões de trabalhadores se transformaram em catadores de papelão, latinhas etc.
Mas as concessões foram feitas! E na brincadeira do ato engraçado (de conceder) dos senhores das indústrias, do capital monopolista, fomos nos acomodando! Mas de tudo isto que até agora foi exposto, uma coisa é certa (pelo menos para nós!): o Estado sempre teve e tem uma capacidade inimaginável de colocar as peças do tabuleiro de xadrez nos seus devidos lugares. Aliás, só ele tem esta capacidade. Só ele pode fazer o que está sendo feito agora, a saber: redistribuir os males de um sistema agonizante para toda a sociedade!
Estamos assistindo mais uma vez na história a uma crise que explicita, de uma vez por todas, como as estruturas políticas do Estado se comportam e se comportaram ao longo dos anos nos quais as pessoas que já haviam tomado nota desta crise (futura), e que estão no poder ainda hoje, se comportaram em relação aos seus efeitos práticos na vida das pessoas comuns: com indiferença. Nenhuma crise surge do nada! Deste ponto de vista, pode-se dizer que esta crise existe porque se decidiu, já nas esferas políticas, que ela tinha de existir.
Portanto, mais uma vez fica provado que as concessões que são feitas aos trabalhadores são cogitadas antes mesmo de a situação tornar-se catastrófica! Ou seja, as concessões se concretizam apenas quando não há outra saída. Quero insistir em chamar a atenção para o poder e o papel do Estado neste contexto. Está provado que é ele que mantém a ordem das coisas como estão e como elas devem ficar. Então aquele papo dos incautos, de que o Estado não tem poder para resolver os problemas das pessoas, de todos, é pueril, digno de risos e boas gargalhadas! Não é isto que o tempo histórico atual está demonstrando, a idéia de que ele, o Estado, é ineficaz. Muito pelo contrário!
Quero compartilhar, fazendo o uso de outras palavras e argumentações, as angústias e aflições de Silvia. Quando as pessoas irão tomar nota de que é perfeitamente possível subjugar o Estado - ao mesmo tempo em que o obriga a cumprir o seu papel histórico, isto é, o de representar os interesses das pessoas e suas necessidades - à toda sociedade? Em vez de deixarmos este ente salvar os Bancos e seus respectivos capitais, demonstrando toda a sua força e potência, vamos canalizar este poder real em favor da dignidade humana!

Wadson Calasans - 06/04/2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

"O ser do mundo hoje é o dinheiro, mas o dinheiro em estado puro" Milton Santos

Até quando assistiremos aos mesmos filmes na história deste mundo? É claro que mudam alguns personagens, os tempos e certos elementos, mas a trama, em sua essência, é praticamente a mesma. Estamos nos referindo aos diversos momentos de crise do modo de produção, ou como preferimos, modo de vida capitalista, ao longo dos processos históricos. Achamos até hilário quando se fala nesses momentos de crise, pois sempre se referem à crise no sistema econômico, como se fossem situações passageiras.

Representantes de alguns países se reúnem, presidentes de bancos, de empresas diversas, representantes de instituições internacionais e discutem o que deve ser feito para resolver ou amenizar a situação de crise. Bilhões em dinheiro são mobilizados, pelos Estados, para socorrer empresários, medidas são tomadas nos países no intuito de controlar a situação de crise no sistema financeiro. O mais intrigante é que o cotidiano vivido pelas pessoas desaparece dos discursos. Os debates são apenas acerca de como salvar a economia em colapso. Não importa quais medidas deverão ser tomadas, desde que consigam assegurar a permanência das coisas tais como estão. Pode até ser que, em algum momento, haja concessões para as populações dos mais diversos lugares. Concessões que visem controlar certas situações de alguns mercados e que depois ainda podem ser vistos como boas ações feitas pelos Estados.

Mas como podem ser passageiras as crises se, permanentemente, existem bilhões (sim, bilhões!) de pessoas no mundo que passam por diversos – e quase sempre concomitantes – agravos materiais e imateriais também (por diversas razões)??? Nesse sentido, consideramos que não há crise passageira. A crise é a própria forma de organização desta sociedade, sob muitos aspectos, o que por si, implica contradições que geram grande parte das mazelas sociais que conhecemos. E isto não é novidade. Aliás, parece até que é algo naturalizado, como se fosse uma fatalidade e uma sina vivermos assim. Como alguém pode pensar que existem momentos de bonança, de abastança, neste mundo, se não é para todos? Alguns podem dizer que esta fala é piegas, panfletária, ou que é fora da realidade...já ouvimos isto em diversas ocasiões. Mas pouco nos importa. Estamos expressando pensamentos e sentimentos humanos. Enquanto sujeitos que somos, refletimos sobre as nossas experiências cotidianas e as relações disto com as outras escalas, que não só a local.

Contudo, enquanto houver quem acredite que é possível um outro modo de organizar as sociedades, um modo que não tenha como pressuposto pessoas com fome - pessoas sem fome, pessoas com teto - pessoas sem teto, pessoas que estudam – pessoas que não estudam, pessoas com muito e outras com pouco ou nada...enquanto houver quem crê em outras possibilidades, poderá tornar-se realidade.
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Silvia Bochicchio - 02/04/2009