sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Olá pessoal! Sobre o texto ''Carnaval Fantasmagórico'', confiram o corrigido, pois o que chegou ao e-mail de vocês pode ter alguns erros ortográficos que já foram corrigidos!!!!!!! Um abraço!!!!!!!!!!!!!

O Carnaval Fantasmagórico!

O Carnaval de Salvador está bem próximo! O Carnaval deveria ser composto e pensado (principalmente pensado!) por e como relações sociais e humanas! Mas o que se costuma a enfatizar, nos períodos próximos à festa, é se tal ou qual empresa (patrocinador!) irá liberar dinheiro para o poder público atingir as ''laboriosas'' cotas necessárias para a realização da festa; é se tal ou qual empresa de publicidade irá realizar a contento a captação de recursos para a prefeitura; se a prefeitura irá gastar mais este ano, se comparado aos anteriores; se o número de turistas atingirá a meta calculada, a racionalizada; se as grandes marcas vão investir no Carnaval, caso o número de turistas previsto não alcance a sua marca, enfim, coisas que nos remetem muito mais à realidade das dinâmicas de bolsas de valores, pregões, comercializações de produtos que geralmente são vendidos por representantes (vendedores) na porta da sua casa etc.
Bom, as relações humanas propriamente ditas não são objetos de debates! Quando o são, seguem as mesmas direções de todo ano, como se houvesse uma tradição que está completamente sobreposta a tudo isto que foi elencado acima: ''o Carnaval representa uma mistura de raças sem precedentes; o Carnaval representa o diabo que o bom povo baiano tem no quadril; os foliões esperam entusiasmados pela quarta-feira de cinzas!'' O mais engraçado é que, os mesmos veículos de comunicação que denunciam a violência crescente no Carnaval de Salvador; a realidade das cordas e toda a segregação que estas trazem; a apropriação peversa e desordenada dos espaços públicos pelos camarotes, estes mesmos fazem também a seguinte política: ''vejam, tem tudo isto que nós estamos denunciando, mas, precisamos ganhar dinheiro também! Então, temos que cobrir o Carnaval, tirar muitas fotos alegres dos meninos e meninas da classe média para que estes possam comprar as suas fotos em nossas mãos; temos que fazer parceria com bandas e blocos que ''arrebentam'' no verão de Salvador porque precisamos vender o jornal e suas manchetes!'' (No caso de alguns jornais impressos!)
Ou seja, a naturalização do Carnaval como objetos que são passíveis de troca como qualquer mercadoria é reiterada, ao passo que se denuncia coisas que são objetivas, e que, portanto, não se pode fugir. Só tem que essas coisas que esses veículos costumam todo ano a apenas tomar nota, são vistas como naturais, são vistas como as ''verdadeiras relações humanas'' e não como relações reificadas e, sobretudo, entre objetos! Objetos cujas relações são apenas de consumo. Essas empresas tratam o Carnaval de Salvador de forma ''esquizofrênica'': não abrem mão das imperiosas relações mercadológicas e mesquinhas, relações que nada têm que ver com as relações propriamente humanas, porque não são relações humanas e sim relações entre objetos que são produzidos pelo trabalho humano e que, dentro dessa lógica que é imposta, acabam se ''autonomizando'' em relação ao próprio ser.
Passa-se, assim, a ver os seres humanos de acordo com as mercadorias que produzem e apenas nas relações que estas mercadorias mantêm entre si. Por exemplo, um homem que produz com seu trabalho sapatos e um outro que produz roupas são vistos apenas nas relações que os produtos dos seus respectivos trabalhos estão enquadrados: como mercadoria, e não como relações entre seres humanos! Vemos agora não os seres, mas os sapatos e as roupas, o que está por trás disto não interessa! Ao mesmo tempo, denunciam como naturais todas as contradições que advêm dessas formas reificadas! Fiquem atentos, pois a tradição do Carnaval que existe (e o pior de tudo é que realmente ela existe!) foi há muito ‘’subjugada’’ por um mundo ''encantado'' e ''estranho'' da mercadoria, dos objetos! Fiquem, mais uma vez, atentos às ''novas'' reportagens que surgirão em breve sobre o Carnaval de Salvador! Boas reflexões!

Wadson Calasans - 22/08/2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sociedade, Cultura e Educação: autênticas manifestações humanas!

Mais uma vez nos colocamos diante da ‘’árdua’’ tarefa que é tecer comentários e/ou fazer reflexões sobre o ensino da História na contemporaneidade. Partir-se-á de um elemento que julgamos ser importante em qualquer tentativa ou proposta de reflexão: cultura. Mais precisamente cultura e sociedade, ambos conceitos absolutamente dialógicos, isto é, estão sempre sendo ao invés de serem.
Mas como conceber, em tempos atuais, na era da globalização perversa, do dinheiro em estado puro, do consumo como sendo o principal ‘’fundamentalismo’’ de nossos tempos, uma educação humanizadora, alicerçada por isso mesmo nas diversas e múltiplas manifestações da vida humana? Uma educação que, por ser especificamente humana, consiga dar cabo não da transmissão de conteúdos mas sim da construção crítica dos mesmos, estimulando e possibilitando os seres humanos a se assumirem como seres que escolhem, que decidem, que optam, que fazem e refazem a sua própria história?
Cultura, conceito tão ‘’vago’’ quanto sociedade, economia, ética etc., surge neste contexto histórico no qual nós estamos imersos, como algo mais ou menos igual para todos os povos! Por isso mesmo falar de cultura e sociedade, sob o prisma da educação tal como querem nos fazer crer, é falar de cultura como entretenimento; é falar sobre e pensar sobre a sociedade não como possibilidade, mas como determinação; é falar de cultura como uma ‘’cascata’’ exótica a que chamamos de ‘’recursos’’, como se tudo e todos não passassem de recursos; portanto, sociedade e cultura são conceitos, formas de pensar e agir que surgem desprovidos de materialidade humana, desprovidos do que chamamos de materiais sócio-historicamente humanos.
Não aceitamos ser desnecessário ou piegas retomarmos o debate, por exemplo, do que vem a ser um conteúdo ou conteúdos educacionais, de como eles se processam na vida prática dos seres humanos, dado o contexto histórico fundamental em que nós vivemos e como o vivenciamos. Em nosso caso específico, faz-se necessário cada vez mais, talvez como nunca antes na história, repensarmos o ensino dos conteúdos de história bem como as suas diversas possibilidades.
A História, como qualquer outra disciplina do conhecimento, está sujeita a ‘’usos’’ e ‘’abusos’’ sociais; a apropriações que indivíduos, grupos sociais e classes sociais diversos fazem deste tipo de saber.
Justamente por serem saberes eminentemente humanos, é que podem ocorrer transgressões, é que podem se desdobrar em favor de ou contra alguém. Por isso, queremos reinsistir que não se pode pensar a educação sem, contudo, situá-la em suas condições subjetivas e objetivas em uma dada sociedade, em um dado contexto social. Para pensarmos praticamente, peguemos, por exemplo, o caso dos cursinhos pré-vestibulares existentes em todo o país. Sob quais situações os seres humanos constroem o conhecimento?
Entendemos que esta criação ou concepção de educação (os cursinhos), fruto, sabemos, do descaso que há com a educação pública, com a coisa pública de um modo geral, fragmenta o sujeito ou pelo menos contribui de modo significativo para este fato. A possibilidade imediata que é dada ao educador, outrossim, ao educando, é a de treinar os seres humanos para um único fim: o de passar no vestibular. A quem serve este tipo de educação e ao que serve? E há quem diga que esta forma de se conceber a educação atual é uma espécie de ‘’mal necessário’’!
Não queremos negar com estas reflexões os condicionantes existentes. Ao contrário, reconhecemos que na maioria das vezes os espoliados, os explorados pela gulodice do lucro se adaptam a esta forma malvada de se reduzir o ser de homens e mulheres a meros recursos, recursos estes que têm um tempo bem delimitado para serem produzidos nas ‘’fornalhas’’ da exploração do neoliberalismo, para poderem o mais rápido possível engrossar a fileira do exército de mão-de-obra rápida e eficaz!
Mas porque são seres humanos, por isso mesmo não determinados, podem e devem ir além dos condicionantes. Neste sentido, pensamos cultura, sociedade e educação como possibilidade, porque são manifestações humanas. Entendemos História como um terreno fértil do existir humano, dialético e contraditório em essência. Se cultura pode, por um lado, expressar manifestações simbólicas, sentimentos e emoções subjetivos, por outro, ela também está situada num contexto material específico, num contexto de experiências compartilhadas, num contexto em que certas formas específicas e hegemônicas de trabalho, exploração e resistência existem objetivamente, havendo, por isso mesmo, uma relação dialética entre o subjetivo e o objetivo.

Wadson Calasans - Agosto/2007

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Cortina de Fumaça

É... Agora doença mental se transformou em cortina de fumaça.
Uma mulher corajosa, indignada com as suas condições materiais (e imateriais também!) - que são as mesmas para a maioria dos brasileiros -, ao ver em jornais na TV a notícia do absurdo aumento de salários aos deputados, senadores, juízes, decide tomar alguma atitude.
Pegou uma faca e esperou um certo Deputado Federal na saída de seu escritório. À visão de seu alvo agiu.
Uma facada nas costas do homem. Não conseguiu matar.
Nas ruas, os comentários foram os mais diversos, depois de noticiado o ocorrido.
Houve quem dissesse: "Que pena que não matou!".
Outros, mais moderados, entendem as razões da mulher, mas não apóiam a violência.
E ainda há quem tenha achado absurda a atitude e, no mesmo caminho que tomou parte da imprensa, dizem que a mulher é doente mental.
Bem, ao ver as declarações que deu a senhora Rita às emissoras de TV, esta não nos pareceu louca. Não. Ela diz coisas que, embora de modo um pouco confuso para quem não quer entender, são coisas coerentes.
Ela, como milhões, passou e passa por situações que, com toda a certeza, o Deputado nunca viveu, por razões óbvias.
Antes de qualquer coisa, não estamos fazendo apologia à violência. Só pretendemos demonstrar que na sociedade existem tensões, resoluções e irresoluções muito mais complexas do que a simples taxação de um indivíduo como louco.
Agora, parte da imprensa que se diz -paradoxalmente - popular transforma esta agente da sociedade em louca.
Até psicólogos são chamados, e talvez outros especialistas, para avaliar, através de um VT, a senhora Rita.
Com que base alguém pode taxá-la como qualquer coisa sem um diálogo? E mesmo com avaliações médicas, podemos reduzir a discussão a isto?
Dizem que foi surto. Se nós tivéssemos surtos assim, pelas mesmas razões e por outras indignações sociais, seríamos agentes contra-hegemônicos.
Imaginamos que a propagação da idéia de que quem se indigna a esse ponto é louco é para não virar moda. A loucura se transformou, então, em cortina de fumaça para ocultar as mazelas de nossa sociedade. Para desviar o foco das contradições que saltam aos olhos.
É a confusão dos espíritos, como já dizia Milton Santos.

Wadson Calasans e Silvia Bochicchio - dezembro /2006

domingo, 10 de agosto de 2008

SER MÚSICO!

Já é chegada a hora de discutirmos, com mais seriedade e criticidade, os caminhos e descaminhos dos seres humanos que fazem, vivem de, e para a música. Os músicos de Salvador foram reduzidos, em sua totalidade, às formas diversas de fetiches hegemônicos. Por exemplo, as formas econômicas de sobrevivência dos seres humanos que vivem da produção de sua criatividade, no sentido mais amplo do termo, foram, no caso de Salvador, adaptadas a uma espécie de ‘’modelão’’.
Esse modelão está longe de ser homogêneo. É justamente por não ser homogêneo que, guarda consigo, subjacente às suas formas de fetiches hegemônicos, contradições inequívocas. Os músicos de Salvador, bem como de todo o Estado, passaram por transformações históricas fundamentais, tanto no sentido simbólico do ser músico como no sentido das mudanças ocorridas na produção de sua vida material, o surgimento de experiências até então desconhecidas ou pelo menos pouco sentidas ou vivenciadas.
Não se pode negar, porém, que estas transformações implicaram novas características ou redefinições nas posturas assumidas por músicos de diversas áreas no ‘’campo’’ da música; novas formas de se conceber ou de se perceber na profissão; novas tipologias do ser músico. Peguemos o caso do carnaval. Muitas vezes os músicos surgem – e isto já faz algum tempo – como uma massa homogênea neste tipo de evento. E o caso se torna muito mais dramático quando observado através de alguns veículos de comunicação.
Os músicos que não fazem parte das possibilidades apresentadas pelos fetiches hegemônicos são, na maioria dos casos, levados a buscar o sentido da produção de sua criatividade dentro daquelas formas. É indiscutível a existência de diferenciações, historicamente construídas, nas formas econômicas e simbólicas de sobrevivência de um músico que se consolida nas estruturas dos fetiches hegemônicos em relação ao músico que, fazendo parte de uma realidade musical mais próxima aos diversos tipos humanos, leva por isso mesmo uma vida econômica e simbólica de segundo nível.
Aqui em Salvador, houve em cerca de duas décadas, um crescimento vertiginoso de empresas em diversos níveis e gêneros da produção musical. A idéia de ‘’profissionalização’’ dos músicos não podia deixar de acompanhar tal fenômeno. Contraditoriamente, nunca tivemos tantos músicos sendo impedidos de exercerem algo que é vital ao ser humano: as suas múltiplas e variadas criatividades. O que desejamos com estas reflexões não é a defesa de um discurso econômico-corporativo – embora até mesmo este tipo de discurso ainda seja necessário no caso de Salvador.
O que queremos é tentar demonstrar os tipos de significados que alguns setores hegemônicos da sociedade baiana construiu e projetou em torno do ser humano que quer ser músico. Que deseja exercer uma ‘’função’’ de músico na sociedade. Ao longo de duas ou no máximo três décadas, a vida dessas pessoas (músicos) sofreu uma drástica mudança. Não estamos aqui estabelecendo uma dicotomia entre o ‘’era bom’’e ‘’agora ficou péssimo’’. Contudo, chamamos a atenção para processos históricos que são diferentes. Transformações que, apesar de seu pouco tempo de desdobramento, são indiscutivelmente significativas. Estas reflexões servem apenas como uma resposta incipiente às tais transformações defendidas por nós.


Wadson Calasans – historiador e músico (nov. 2007)

Por uma necessidade histórica

Gostaríamos de começar este texto fazendo a seguinte pergunta: quem tem coragem de sustentar uma necessidade histórica? Lançamos tal pergunta, com o intuito de retomarmos a velha e boa discussão sobre a arte e o artista em determinadas sociedades, em determinados modos de conceber a vida, a existência. Nesse sentido , nos reportemos à realidade da sociedade baiana.
Lemos, em um dado artigo publicado em A Tarde, que a lógica do mercado sufoca a produção artística; ora, de fato isto é algo real e, para sermos mais contundentes, perverso. Contudo, a discussão não pode e não deve girar em torno apenas desse elemento, apesar de este ser extremamente importante. A análise do cenário ''artístico-cultural'' baiano ( ou mesmo nacional) não pode estar condicionada a cortinas de fumaça desagregadas e confusas. Se o mercado sufoca a arte e igualmente os artistas, isto tem de ser tomado como ponto de chegada de um modo de vida, de existência , de organização social que já deram provas cabais de que essa forma de conceber o organismo coletivo não serve.
Os problemas relacionados à arte bem como os artistas têm de ser encarados da mesma forma com que se discute, por exemplo , a falta de moradia para a maioria da população baiana e também nacional; à falta de inserção nos ditos espaços democráticos de uma infinidade de segmentos sociais como por exemplo os loucos. Quem já pensou em democracia incluindo os loucos neste regime? Enfim , o que está em constante contradição não é apenas o mercado, mas também a sociedade política, a própria noção de Estado moderno (aliás isso não é novidade), o modo de conformismo social etc. Nesse passo, a arte e os artistas não passam de legítimos representantes das contradições gerais que assolam todo o organismo coletivo, os múltiplos e diversos níveis da vida social. A produção do que se chama de cultura (termo controverso ) é também produção material da vida cotidiana .
Ver a árvore – e isto é também importante - e não mais a floresta, o regulamento e não o plano estratégico , talvez não seja, pode-se afirmar, uma forma interessante de fiscalização ''cidadã'', pelo menos da parte dos que tiveram e têm a oportunidade de exercê-la. Volta e meia os grandes veículos de comunicação exibem os doutores, mestres, intelectuais , enfim - os que possuem o que a filósofa Marilena Chauí chamou de ''discurso competente '' -, conclamam todos esses a falarem e discutirem sobre um determinado tema de interesse público. Porém, no caso dos especialistas da Bahia (não todos, mas uma parte significativa), ou mesmo, insisto mais uma vez, nacionais, parecem não reconhecer, pelo menos criticamente, uma necessidade histórica .
Se por um lado o mercado impõe o seu ritmo mesquinho e tacanho à arte e igualmente aos artistas da Bahia, e tal mecanismo inviabiliza o desenvolvimento real da criatividade humana, por outro é perigosa a crença absoluta no Estado como sendo a panacéia de todas as mazelas sociais, e isto inclui a arte e os artistas . Com os critérios da vida social estando nas mãos de sociedades hegemônicas, e existindo propostas e discussões que visam apenas ao imediato, o Estado (a sociedade política), com esta sua forma atual de conceber o tecido social, passa e continuará passando longe de lograr êxito no ''campo de batalha'' chamado sociedade.
Desse modo , os pressupostos ideológicos do ''Estado mínimo '' não passam de noções pueris e de má fé. Tendo em vista que tudo passa e sempre passou pelas esferas da sociedade política, estabelecer um debate pautado em questões desprovidas de materialidade pode não ser o caminho mais adequado. Efetivamente , o Estado só desaparece quando lhe convém; mas quando é necessário assegurar os interesses hegemônicos o Estado surge como um verdadeiro Leviatã de Thomas Hobbes.
Reconhecer criticamente uma necessidade histórica é demonstrar , no caso específico do cenário artístico-cultural da Bahia, que os indivíduos subalternos, que elaboram e reelaboram a todo o tempo formas diversas de cultura sofrem sempre a iniciativa dos grupos dominantes, mesmo quando se rebelam e se apresentam como sujeitos históricos reais; é chamar a atenção para as concessões que, embora sejam necessárias, sempre foram frágeis do ponto de vista histórico, dão um gosto de vitória aparente , conservando assim o permanente estado de defesa dos segmentos sociais desprivilegiados.
Dito isto , não denunciar todo este modelo falido de gestão coletiva, cujos critérios são eivados de vícios, é não reconhecer , como já foi dito exaustivamente, uma necessidade histórica objetiva. Os números de distribuição dos produtos culturais são ambíguos , muito embora sejam essenciais para a construção de políticas mais democráticas. São ambíguos porque não expressam mudanças reais e são armas tanto das sociedades hegemônicas como das camadas subalternas.
Pensar num Estado intervencionista no âmbito cultural, isto é, um Estado responsável por todo o processo cultural e, ao mesmo tempo , termos um Estado com uma lógica mercantilista mesquinha no âmbito econômico é muito preocupante. Antes de mais, o artista é um ser humano e como tal precisa satisfazer as suas necessidades básicas e não só as necessidades artísticas ; antes de ser ''trabalhador da arte'', pois é assim que ele está inserido nesse modo de produzir a existência , ele é um ser humano como todos nós; sendo assim , a ascensão do artista tem de ser igualmente a ascensão de todos os indivíduos que sofrem as mesmas contradições que ele.
Não resolve e nem muda nada se melhorarmos somente o modo de vida do artista bem como os mecanismos distribuidores de cultura e arte. Uma sociedade que procura desenvolver-se culturalmente não pode continuar vítima das suas necessidades materiais. Acima de tudo, precisa de tempo livre para criar e usufruir da cultura . Não julgamos com estes apontamentos ter '' descoberto a roda''. Ao contrário , chamamos a atenção para realidades que estão expostas a todos. Só tem que consideramos o problema do artista, do criador, da arte etc, não somente como algo isolado e corporativo, mas como sendo produto de um modo de conceber a vida coletiva, a existência social.
Por fim, não temos a solução da questão – talvez fosse muito arrogante e pedante de nossa parte afirmarmos isso. Quisemos sim, talvez sem sucesso, criar provocações e reflexões sobre o tema. Esperamos ter contribuído para o avanço do debate. Sabemos que o tema é e continuará sendo alvo das mais animadas discussões .

Wadson Calasans
(11/02/2007)