segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Reflexões sobre a Cegueira!

Há poucos dias, fui ao cinema para assistir o filme Ensaio Sobre a Cegueira, uma adaptação da obra de José Saramago. O filme causou-me, evidentemente, uma série de reflexões; as mais diversas. E algumas das minhas reflexões tomavam o caminho de pensar a ''cegueira'' como uma espécie de ''véu'', sob o qual nós agimos, pensamos, e acima de tudo, existimos. A cegueira seria como um caleidoscópio; só que no caso de alguns seres humanos, as figuras geradas por esse brinquedo cilíndrico são ''selecionadas'' e obstinadamente tidas como sendo as únicas possibilidades de imagens da realidade - a despeito de não compreendê-las muito bem.
Levando a discussão ao nível propriamente conceitual, tomando, por exemplo, cegueira como um conceito, totalmente inserido numa determinada visão de mundo, como pensar a cegueira que vivemos e praticamos no Brasil? O que é e como é a ''cegueira brasileira''? O que são as relações de poder e como são concebidas na cegueira brasileira? O ''modismo'' e a naturalização, imagens geradas pelo intrincado jogo feito pelo caleidoscópio (a realidade), é uma expressão do mundo insistentemente projetada por aqueles que não conseguem perceber muito bem quão infeccionados estão com a doença.
A naturalização é sem dúvida uma das projeções mais perigosas! É ''lugar-comum'' o fato de certos grupos humanos exercerem certos poderes sobre outros grupos humanos; já é natural, portanto é piegas ficarmos o tempo todo falando sobre isto! Não se quer saber que os poderes de certos grupos humanos sobre outros grupos humanos, em determinados períodos históricos, se impõem sobre ambos os grupos, tanto ao grupo que exerce uma certa dominação quanto ao grupo sobre o qual tal dominação é exercida. Esse (s) poder (es) adquirem uma condição de potências absolutamente estranhas aos grupos humanos envolvidos nas situações de dominação e relações de forças. O que fica claro é que não conseguimos ver - por conta da cegueira, da proliferação da doença - que os indivíduos se fazem uns aos outros, tanto física quanto culturalmente. Enquanto permitirmos que grupos humanos fixem a imagem do mundo, ao mesmo tempo em que estimulam conscientemente a cegueira por conta de tal ação, não teremos um terreno favorável para produzirmos, de fato, um antídoto que seja realmente eficaz: neste caso, a democracia e a solidariedade.

Wadson Calasans - 22/09/2008

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