O Carnaval de Salvador está bem próximo! O Carnaval deveria ser composto e pensado (principalmente pensado!) por e como relações sociais e humanas! Mas o que se costuma a enfatizar, nos períodos próximos à festa, é se tal ou qual empresa (patrocinador!) irá liberar dinheiro para o poder público atingir as ''laboriosas'' cotas necessárias para a realização da festa; é se tal ou qual empresa de publicidade irá realizar a contento a captação de recursos para a prefeitura; se a prefeitura irá gastar mais este ano, se comparado aos anteriores; se o número de turistas atingirá a meta calculada, a racionalizada; se as grandes marcas vão investir no Carnaval, caso o número de turistas previsto não alcance a sua marca, enfim, coisas que nos remetem muito mais à realidade das dinâmicas de bolsas de valores, pregões, comercializações de produtos que geralmente são vendidos por representantes (vendedores) na porta da sua casa etc.
Bom, as relações humanas propriamente ditas não são objetos de debates! Quando o são, seguem as mesmas direções de todo ano, como se houvesse uma tradição que está completamente sobreposta a tudo isto que foi elencado acima: ''o Carnaval representa uma mistura de raças sem precedentes; o Carnaval representa o diabo que o bom povo baiano tem no quadril; os foliões esperam entusiasmados pela quarta-feira de cinzas!'' O mais engraçado é que, os mesmos veículos de comunicação que denunciam a violência crescente no Carnaval de Salvador; a realidade das cordas e toda a segregação que estas trazem; a apropriação peversa e desordenada dos espaços públicos pelos camarotes, estes mesmos fazem também a seguinte política: ''vejam, tem tudo isto que nós estamos denunciando, mas, precisamos ganhar dinheiro também! Então, temos que cobrir o Carnaval, tirar muitas fotos alegres dos meninos e meninas da classe média para que estes possam comprar as suas fotos em nossas mãos; temos que fazer parceria com bandas e blocos que ''arrebentam'' no verão de Salvador porque precisamos vender o jornal e suas manchetes!'' (No caso de alguns jornais impressos!)
Ou seja, a naturalização do Carnaval como objetos que são passíveis de troca como qualquer mercadoria é reiterada, ao passo que se denuncia coisas que são objetivas, e que, portanto, não se pode fugir. Só tem que essas coisas que esses veículos costumam todo ano a apenas tomar nota, são vistas como naturais, são vistas como as ''verdadeiras relações humanas'' e não como relações reificadas e, sobretudo, entre objetos! Objetos cujas relações são apenas de consumo. Essas empresas tratam o Carnaval de Salvador de forma ''esquizofrênica'': não abrem mão das imperiosas relações mercadológicas e mesquinhas, relações que nada têm que ver com as relações propriamente humanas, porque não são relações humanas e sim relações entre objetos que são produzidos pelo trabalho humano e que, dentro dessa lógica que é imposta, acabam se ''autonomizando'' em relação ao próprio ser.
Passa-se, assim, a ver os seres humanos de acordo com as mercadorias que produzem e apenas nas relações que estas mercadorias mantêm entre si. Por exemplo, um homem que produz com seu trabalho sapatos e um outro que produz roupas são vistos apenas nas relações que os produtos dos seus respectivos trabalhos estão enquadrados: como mercadoria, e não como relações entre seres humanos! Vemos agora não os seres, mas os sapatos e as roupas, o que está por trás disto não interessa! Ao mesmo tempo, denunciam como naturais todas as contradições que advêm dessas formas reificadas! Fiquem atentos, pois a tradição do Carnaval que existe (e o pior de tudo é que realmente ela existe!) foi há muito ‘’subjugada’’ por um mundo ''encantado'' e ''estranho'' da mercadoria, dos objetos! Fiquem, mais uma vez, atentos às ''novas'' reportagens que surgirão em breve sobre o Carnaval de Salvador! Boas reflexões!
Wadson Calasans - 22/08/2008
Wadson Calasans - 22/08/2008
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