Já é chegada a hora de discutirmos, com mais seriedade e criticidade, os caminhos e descaminhos dos seres humanos que fazem, vivem de, e para a música. Os músicos de Salvador foram reduzidos, em sua totalidade, às formas diversas de fetiches hegemônicos. Por exemplo, as formas econômicas de sobrevivência dos seres humanos que vivem da produção de sua criatividade, no sentido mais amplo do termo, foram, no caso de Salvador, adaptadas a uma espécie de ‘’modelão’’.
Esse modelão está longe de ser homogêneo. É justamente por não ser homogêneo que, guarda consigo, subjacente às suas formas de fetiches hegemônicos, contradições inequívocas. Os músicos de Salvador, bem como de todo o Estado, passaram por transformações históricas fundamentais, tanto no sentido simbólico do ser músico como no sentido das mudanças ocorridas na produção de sua vida material, o surgimento de experiências até então desconhecidas ou pelo menos pouco sentidas ou vivenciadas.
Não se pode negar, porém, que estas transformações implicaram novas características ou redefinições nas posturas assumidas por músicos de diversas áreas no ‘’campo’’ da música; novas formas de se conceber ou de se perceber na profissão; novas tipologias do ser músico. Peguemos o caso do carnaval. Muitas vezes os músicos surgem – e isto já faz algum tempo – como uma massa homogênea neste tipo de evento. E o caso se torna muito mais dramático quando observado através de alguns veículos de comunicação.
Os músicos que não fazem parte das possibilidades apresentadas pelos fetiches hegemônicos são, na maioria dos casos, levados a buscar o sentido da produção de sua criatividade dentro daquelas formas. É indiscutível a existência de diferenciações, historicamente construídas, nas formas econômicas e simbólicas de sobrevivência de um músico que se consolida nas estruturas dos fetiches hegemônicos em relação ao músico que, fazendo parte de uma realidade musical mais próxima aos diversos tipos humanos, leva por isso mesmo uma vida econômica e simbólica de segundo nível.
Aqui em Salvador, houve em cerca de duas décadas, um crescimento vertiginoso de empresas em diversos níveis e gêneros da produção musical. A idéia de ‘’profissionalização’’ dos músicos não podia deixar de acompanhar tal fenômeno. Contraditoriamente, nunca tivemos tantos músicos sendo impedidos de exercerem algo que é vital ao ser humano: as suas múltiplas e variadas criatividades. O que desejamos com estas reflexões não é a defesa de um discurso econômico-corporativo – embora até mesmo este tipo de discurso ainda seja necessário no caso de Salvador.
O que queremos é tentar demonstrar os tipos de significados que alguns setores hegemônicos da sociedade baiana construiu e projetou em torno do ser humano que quer ser músico. Que deseja exercer uma ‘’função’’ de músico na sociedade. Ao longo de duas ou no máximo três décadas, a vida dessas pessoas (músicos) sofreu uma drástica mudança. Não estamos aqui estabelecendo uma dicotomia entre o ‘’era bom’’e ‘’agora ficou péssimo’’. Contudo, chamamos a atenção para processos históricos que são diferentes. Transformações que, apesar de seu pouco tempo de desdobramento, são indiscutivelmente significativas. Estas reflexões servem apenas como uma resposta incipiente às tais transformações defendidas por nós.
Wadson Calasans – historiador e músico (nov. 2007)
Esse modelão está longe de ser homogêneo. É justamente por não ser homogêneo que, guarda consigo, subjacente às suas formas de fetiches hegemônicos, contradições inequívocas. Os músicos de Salvador, bem como de todo o Estado, passaram por transformações históricas fundamentais, tanto no sentido simbólico do ser músico como no sentido das mudanças ocorridas na produção de sua vida material, o surgimento de experiências até então desconhecidas ou pelo menos pouco sentidas ou vivenciadas.
Não se pode negar, porém, que estas transformações implicaram novas características ou redefinições nas posturas assumidas por músicos de diversas áreas no ‘’campo’’ da música; novas formas de se conceber ou de se perceber na profissão; novas tipologias do ser músico. Peguemos o caso do carnaval. Muitas vezes os músicos surgem – e isto já faz algum tempo – como uma massa homogênea neste tipo de evento. E o caso se torna muito mais dramático quando observado através de alguns veículos de comunicação.
Os músicos que não fazem parte das possibilidades apresentadas pelos fetiches hegemônicos são, na maioria dos casos, levados a buscar o sentido da produção de sua criatividade dentro daquelas formas. É indiscutível a existência de diferenciações, historicamente construídas, nas formas econômicas e simbólicas de sobrevivência de um músico que se consolida nas estruturas dos fetiches hegemônicos em relação ao músico que, fazendo parte de uma realidade musical mais próxima aos diversos tipos humanos, leva por isso mesmo uma vida econômica e simbólica de segundo nível.
Aqui em Salvador, houve em cerca de duas décadas, um crescimento vertiginoso de empresas em diversos níveis e gêneros da produção musical. A idéia de ‘’profissionalização’’ dos músicos não podia deixar de acompanhar tal fenômeno. Contraditoriamente, nunca tivemos tantos músicos sendo impedidos de exercerem algo que é vital ao ser humano: as suas múltiplas e variadas criatividades. O que desejamos com estas reflexões não é a defesa de um discurso econômico-corporativo – embora até mesmo este tipo de discurso ainda seja necessário no caso de Salvador.
O que queremos é tentar demonstrar os tipos de significados que alguns setores hegemônicos da sociedade baiana construiu e projetou em torno do ser humano que quer ser músico. Que deseja exercer uma ‘’função’’ de músico na sociedade. Ao longo de duas ou no máximo três décadas, a vida dessas pessoas (músicos) sofreu uma drástica mudança. Não estamos aqui estabelecendo uma dicotomia entre o ‘’era bom’’e ‘’agora ficou péssimo’’. Contudo, chamamos a atenção para processos históricos que são diferentes. Transformações que, apesar de seu pouco tempo de desdobramento, são indiscutivelmente significativas. Estas reflexões servem apenas como uma resposta incipiente às tais transformações defendidas por nós.
Wadson Calasans – historiador e músico (nov. 2007)
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